Druam

Druam tende a ser uma experiência "ficcional" em devir, escrita por Nelson Job, pesquisador transdisciplinar, autor do "Livro na Borogodança", do romance "Druam", entre outros. Site: www.nelsonjob.com.br

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15.4.14

Selvagear

Em êxtase estamos.
Embriagados, sim, mas de um vinho que não se colhe na videira;
O que quer que pensem de nós em nada parecerá ao que somos. 


Por mais trágicos que fossem meus arroubos, algum bem deles emergiu. Pois muito que me anunciaram o impossível, o proibido, o errado: apenas nomes vazios dos medos e do controle alheios. É que peguei o jeito das tortuosidades e dele fiz meu norte. Ainda que se chore as leis do mundo para que me impeçam, de nada serviu; talvez diante disso, alucinei uma vergonha, um olhar perdido. Em seguida, quando minha respiração ressoava com as marés e os silvos agrestes dos tornados, eu sigo em frente, em frente, em frente...

Quando ela vem, no desjejum, com os cabelos ainda na boca e o olhar de indagação se o torpor de ontem ainda é; eu miro e amo cada pele, sinuosidade, molécula, o balé de sua estadia no mundo e amo nela, através dela, o cosmos. Nesse deslugar de nós, eu encontro as chamas do impossível e ardo em seu crepitar, expandindo o então existir. Abrindo os caminhos tempestuosos do Quase Nada, eu gargalho, então, diante do Insofismável.

Habito o Vortex, o improvável coração do entre, onde os aqui(s) confluem e se transformam. É meu lar, minha dor, meu clAmor. As velocidades dos fluxos cósmicos, a princípio desnorteados, entrelaçam-se em uma dança, dervixes estelares. Ao longe, as manias das convenções, fruta podre que caiu do cosmos. Uma lágrima escorre em minha vaidade, ousando desqualificar. Impedido de compartilhar as acontecências com cada coágulo, sigo, apreendendo o que puder, criando outras veias, outras rimas. Mas minhas companhias são imensas, tanto que muitas vezes não as contemplo por completo, ainda que me inunde de gratidão, nos vincos onde as fés falham e devires brotam.

Melodias anunciam que se seguirá um estrondo. Minhas vísceras ensinam-me algumas prudências. Parece que o Selvagem, mais selvagem estará.  Precipitam-se fagulhas da Tempestade. Sinto o calafrio. Onde muitos medram, eu apenas sorrio e experimento os novos passos da dança.

2 comentários:

ree disse...

Nelson, tenho comentado nada sobre teus contos, por me faltarem palavras à altura que por desejo de fazê-lo. Este, contudo, me arrancou um "bravo!" (que deixo tímida e concisamente neste comentário, mas que se estende a tantos outros que publicou antes deste Selvageando!)

Bravíssimo, Nelson!
Fica a pergunta: "A quem será que se destina?"

Forte abraço
de seu admirador
Ricardo Paes

Nelson Job disse...

Ô Ricardo, muitíssimo obrigado por estimular o fim do meu jejum de escrituras! Outros virão. Abração